domingo, 19 de setembro de 2010

BOLO DE MAÇÃ COM AÇUCAR MASCAVO


Peguei esta receita no verso da embalagem de açucar mascavo, fiz algumas modificações e ficou muito bom.

Ingredientes:

2 ovos
2 xícaras de açucar mascavo
1 xícaras de óleo
1/2 xícara de leite ou suco de laranja
ou suco de laranja
2 xícaras de farinha de trigo
1 xícara de aveia
1 colher de fermento
1 colher de chocolate em pó
1 colher de canela em pó
2 maçãs picadas
um punhado de uvas passas sem sementes
castanhas picadas ( se tiver )

Bater no liquidificador, os ovos, os leite ou suco e o açucar.
Misture numa vasilha, a farinha, o chocolate, a canela, o fermento. Despeje o líquido e misture tudo. Acrescente a maçã a uva passa e a castanha.
Leve ao forno pré-aquecido em forma de buraco , untada e polvilhada.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

AFLIÇÃO DE IDENTIDADE

Pedi ao meu amigo Shidon Soares um belo texto seu sobre o tema "Identidade", que tem muito a ver com o que tenho vivido como recenseadora do IBGE.

AFLIÇÃO DE IDENTIDADE ( SHIDON SOARES)

Reflexão: o indicador de identidade de um indivíduo é a cor de sua pele.
Um homem é negro, branco, vermelho, amarelo.
Estas são as quatro etnias da Raça Humana.
Em meu registro de nascimento está escrito: Cor: parda.
Por si só, a palavra é ilegal, imoral, mentirosa e ausente de si mesma,
Tal como um homem não ter consciência da cor que carrega,
Do nascer ao morrer e depois, uma vez que sua herança será deixada na cor.
Tal palavra sequer existe no dicionário de mais de quatrocentas mil palavras da Língua Portuguesa.

Qual é a minha cor afinal?
Sou negro ou sou branco?
Identidade:qualidade de idêntico, união com igual e por consequência
identificação com o que determina a identidade (Cor: parda? -interrogação-)
e por extensão conhecimento de uma coisa ou de outro indivíduo como os próprios, ou seja:
reconhecer-se, irmanar-se com o outro da mesma linhagem étnica.
Identidade parda: a qualificação (ou antes, a desqualificação) do indivíduo dentro de uma
caixa lacrada: Cor parda. Este o peso e a gravidade da inexistente e no entanto tão marcante
e carregada palavra de clara intenção separativa.
Se é para qualificar e determinar no indivíduo a idéia de identidade pela cor, porque não
então a cor marron como descritivo da tonalidade de pele?
Se é por questão de cor, então que me chamem de Marron, sim, por que é isto, somos
uma nação , um povo, um reino de seres marrons, de todos os matizes, tons, assim
como nos negros, vermelhos, amarelos e brancos.
Qual a cor dela? Branca igual leite.
E ele? Negro de ébano.
E ela? Amarelo pastel.
E a dele? Vermelho cobre.
E a cor dela? Marron chocolate.
Tão simples e sem o ranço da estúpida discriminação.
Porque é assim que vejo: clara e despudorada discriminação imposta
a toda uma etnia que vai estar presente pelos séculos sobre a face da terra, Os Marrons.

Identidade: Cor: parda. Consciência: sou negro ou sou branco?
Qual é a minha identidade, entre quais iguais sou igual?
Sou negro ou sou branco?
Sou lobo ou sou homem?
Sou mago ou charlatão?
Vou pedir um minuto de silêncio para me concentrar e dar uma resposta.
...
Mas, como já disse NSN, um minuto de silêncio é muito tempo
Já tenho a resposta e é uma pergunta:
-Cada um aqui sabe qual a sua cor?
Posso perguntar?
Todos provavelmente terão uma resposta exata,
Seja ela negro, amarelo, branco ou vermelho.
Mas a minha outra resposta ficará em branco,
Cravada dentro de um quadro negro,
Uma incógnita.

Que contradição viver assim. Identidade:cor:parda.
Mas esta é a vida e se chorar leva mais.
Menos que chorar vou olhar e conferir:
De noite todos os gatos são pardos.
É dia pleno e eu vejo tudo pardo.
E à luz do sol paro diante do espelho e me encaro:
Indicador de identidade dentro da sociedade: cor: parda.
Identidade: para aqueles que algum dia porventura se perguntaram:
-Afinal, a que grupo étnico pertenço dentro da Raça Humana?

(Só não vale fazer que nem o Ronaldo Fenômeno, que tem a certeza argentina de ser branco).

A FALTA DE SENSO DO CENSO

Estou trabalhando há alguns dias como recenseadora do IBGE ( Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Tem sido uma experiência bastante interessante.
Algumas coisas têm me chamado muito a atenção, uma delas é o fato de que quase ninguém se declara negro, todos se dizem pardos. Eu não posso influenciar na resposta da pessoa, vejo claramente suas características negras mas tenho que colocar o que a pessoa diz. Alguns, quando se dizem negros, completam depois dizendo assim: " mas meus filhos já são mais brancos"; Como se quisessem amenizar a situação.
A pergunta que é feita pelo questionário do IBGE é a seguinte:
A sua cor ou raça é:
-branca
-preta
-amarela
-parda
-indígena
Não entendi ainda esta história de cor preta, alguém pode me ajudar? É correto ainda dizer "raça"? A raça não é a humana e ponto????
Li no blog do Augusto (http://www.oooaugusto.blogspot.com)ele contando como foi o recenseamento na sua casa. Ele resolveu dizer que era de raça indígena e neste caso abre uma opção - qual a sua etnia? - Ele respondeu que era da tribo dos " Kukukaya". É claro que a moça não encontrou esta etnia , mas deve ter ficado com a pulga atrás da orelha. Só o Augusto mesmo, ele é muito engraçado.
Mas não é só isso que me chama a atenção não. Me impressiona ver a quantidade de pessoas que vivem na miséria, famílias com 8 pessoas sobrevivendo com um salário mínimo de algum deles. Famílias enormes que vivem em dois cômodos e outras pouquíssimas de três ou quatro pessoas que vivem em casas com 3 ou 4 banheiros, onde todos trabalham ganhando acima de 1.500,00 reais.
Estive numa casa onde tinha um homem no muro que gritava com todo mundo que passava na rua. Sua irmã veio me receber e percebi que ele não era o único louco da casa. Era tudo uma loucura...
Uma das crianças ( eram várias) abriu o portão pra sair e o homem aproveitou e escapuliu. A irmã saiu batendo nele, mandando entrar senão ele ía apanhar mais e ela ía chamar a polícia. Ele sentou no chão e começou a gritar.Eu lhe estendi minha mão e disse- Vem que eu te ajudo a entrar-. Ele me olhou nos olhos, foi se acalmando e perguntou se eu entraria com ele. Eu disse que sim.
Ele se levantou, segurou firme na minha mão e foi entrando. Prendeu a outra mão no portão e falou - então entra comigo. Eu entrei e ele veio atrás. Pedi que ele se sentasse na escada e fui fazendo as perguntas do censo pra ele e ele tentando me responder do seu jeito.
A irmã disse: " Pensa que é fácil"?

Tenho ouvido histórias de vida muito interessantes, vendo situações que me fazem dar valor a tudo que tenho e parado de reclamar de barriga cheia.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

UM BOM VÍDEO

Peguei no blog do Peu www.okinografo.blogspot.com, um ótimo blog pra quem curte cinema, curtas, documentários etc.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Merengue de morango


Vamos aproveitar a safra e o bom preço pra fazer várias coisas com o morango. Que delícia!
Essa receita eu dedico a minha amiga Joana, que agora está no México.

Merengue de morango

5 caixas de morango
2 embalagens de 200ml de creme de leite para chantily ( Vigor ou Amélia)
400 gr de suspiro ( é preciso que seja de boa qualidade, do contrário não fica muito bom. Pode ser aqueles que vendem em padaria ).

Limpe e lave bem os morangos. Separe uns mais bonitinhos pra enfeitar e pique o restante.
Bata o creme de leite gelado por alguns minutos até que tenha consistência de chantily
Bata no liquidificador alguns morangos com um pouquinho de água.
Escolha uma travessa de vidro e faça camadas intercalando o chantily, o morango e o suspiro, sendo que a calda vc coloca entre eles e a última camada de chantily.
Decore por cima com os morangos bonitinhos e alguns suspiros.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

UMA HOMENAGEM AO SABÃO, O CACHORRO DO MUTCHO

MORREU NESTA QUARTA-FEIRA 23-06 O SABÃO. ELE ERA O CÃOPANHEIRO DO MEU AMIGO MUTCHO.FAÇO IDEIA DE COMO O MUTCHO ESTÁ SE SENTINDO, ELE DISSE: "ENTERREI HOJE MEU MELHOR AMIGO".
O SABÃO LHE FAZIA COMPANHIA HÁ UNS BONS ANOS. ERA UM CÃO DÓCIL, AMIGÁVEL, VIVIA POR ALI, NO JARDIM HELGA, NA CASA DOS VIZINHOS, ACOMPANHANDO AS CRIANÇAS,ESCORREGANDO NO MEIO DOS LIVROS, AFAGANDO OS DIAS SOLITÁRIOS DO MUTCHO E COMPONDO A MAGNÍFACA DECORAÇÃO DO BAR.
O MUTCHO ACHA QUE ELE FOI ENVENENADO. EU PREFIRO ACREDITAR QUE ELE COMEU VENENO EM ALGUM LUGAR, PREFIRO NÃO ACREDITAR QUE ALGUÉM TENHA CORAGEM DE TAMANHA MALDADE.
EU TAMBÉM TENHO UMA CADELA DE ESTIMAÇÃO, SEU NOME É MEL, ME DÁ ALGUM TRABALHO, PRINCIPALMENTE QUANDO PRECISAMOS VIAJAR, MAS É UMA GRANDE COMPANHEIRA E VOU SENTIR MUITO QUANDO ELA MORRER.
AQUI ESTÃO ALGUMAS FOTOS DO SABÃO NO MEIO DOS LIVROS, AJUDANDO NA BICICLOTECA.









terça-feira, 22 de junho de 2010

SOBRE FACAS E PANELAS

Panelas do coração

Os cozinheiros se dividem em duas espécies. Aqueles que num incêndio salvariam suas facas e os que salvariam suas panelas. Acho que se esqueceram da terceira espécie, os que se matariam pelos dois. Reflitam. Quem são vocês?
Já me fiz a pergunta. Eu correria com minhas quatro panelas, todas com vinte e cinco anos de luta. Como elmos prateados de uma batalha espinhosa e não poucas vezes prazerosa. São panelas que uso quando cozinho sozinha para alguém que gosto. Lá descem elas do armário. São de aço brilhante, italianas e indestrutíveis. Panelas sérias para um métier sério.
A frigideira, uma panela bem alta para macarrão, uma comum, média, e outra de duas asinhas laterais, baixa, que dá até para uma pequena paella. Os cabos não esquentam, por mais que sejam aquecidos, a comida não gruda no fundo, não são pesadas demais, facílimas de lavar. Irradiam o calor por igual.
E eu sei a marca? Só me lembro que ao ver a nota, da Hammacher Schlemmer, Nova Iorque, houve choro e ranger de dentes. “Poderíamos ter ficado num hotel 5 estrelas e não neste muquifo com cozinha para você exibir este panelório!” Mal se sabia que durariam um quarto de século ou mais.
Vocês viram aquele filme, Hannibal? Ou leram o livro? São a sequência ao Silêncio dos Inocentes, pequena obra prima. O monstro canibal escapa da prisão e é quase impossível traçar sua trajetória.Como descobrir em que parte do mundo se escondera aquela peste? Muita inteligência do mal, fugas alucinantes, amor ao perigo. Mas um dos detetives sabia que ele gostava de cozinhar depois que lhe fizera uma pequena confissão (Comi o fígado dele com favas e um bom Chianti.)
Gostava só de coisas boas. O detetive começou a pesquisar os clientes mais assíduos das lojas de cozinha e descobriu os traços do bandido através desta loja americana de nome estranho que vende os melhores utensílios do mundo.O malvado não resistia a uma boa faca, ou panelinha no jeito.Deve ter feito a compra, apaixonado por alguma panela jeitosa, com cartão de crédito, endereço e telefone.
E tínhamos na família a panela na qual minha mãe fazia o bacalhau. Panelas como aquela acontecem nas melhores famílias. Feia, desengonçada, daquelas finas que logo se amassam, o cabo que queima se não se presta muita atenção, e que mora debaixo da pia para não causar má impressão às visitas. Bom, algum incauto deve ter jogado fora a bichinha. Com ela foi-se o bacalhau. Tinha a espessura exata para que o pão que a forrava ficasse queimado sem exageros, bebendo o excesso de azeite. As batatas cozinhavam juntas, em camadas, sem problemas. O tomate se misturava à cebola quase sem deixar vestígios, só mesmo a cor e o gosto. Carentes da panela sumida as nossas sextas feiras santas perderam a santidade única e úmida daquele bacalhau.
Já facas são questão de simpatia cortante. Você tem que olhar a faca e se sentir atraído.E a faca prolonga a mão, logo tem que estar em perfeita sintonia com ela. Multiuso. Corta, descasca, pica, separa, lacera, raspa, golpeia, fura, escama, serra. Preste atenção, qualquer ação na cozinha se torna um desespero sem boas facas afiadas. E aquela pequenina que tem a lâmina curva? Ela se aninha na mão pequena e obedece para descascar uma laranja com o mínimo de elegância, faz bifes razoáveis, pode desossar uma galinha sem causar vergonha, com a ponta extirpa excrescências de um osso, é capaz até de furar a extremidade de um ovo quente.
Há facas para todos os gostos, é claro, mas é muito difícil que você se apaixone por várias facas a um só tempo. É um instrumento monogâmico. Já a panela...
NINA HORTA
É COZINHEIRA, ESCRITORA E PROPRIETÁRIA DO BUFÊ GINGER. É AUTORA DO LIVRO NÃO É SOPA (UMA MISTURA SABOROSA DE CRÔNICAS E RECEITAS) E VAMOS COMER, COM 250 MIL EXEMPLARES DISTRIBUÍDOS PELO MEC PARA ESCOLAS PÚBLICAS DE TODO O Brasil


Recebi do meu amigo Valter esta gostosa crônica de Nina Horta. Eu também tenho cá as minhas preferências. Sempre que vou a algum lugar onde pretendo cozinhar saio carregando minhas tranqueiras de cozinha, as panelas adequadas ao que vou preparar, as travessas, e também facas. Detesto chegar numa cozinha e não encontrar as coisas que preciso. Como cozinhar macarrão pra várias pessoas numa panela delicadinha? Macarrão pede uma panela mãe,daquelas mães italianas de preferência. E depois de pronto pede uma bonita travessa pra que o molho possa se exibir.
As facas, estas eu não gosto das grandes. Prefiro as menores, até mesmo as de serra, me sinto mais íntima e mais confiante, mas tenho uma grande pra cortar as folhas de verdura, cortar carne e o que mais for necessário, nunca se sabe.
Quando viajo com a Expedicion Donde Miras levo todos os meus apetrechos de cozinha que é pra não ficar na mão. Já cheguei a fazer comida pra umas 50 pessoas e pra mim é uma grande realização. É como ter aquela família grande , cheia de filhos, cheia de "ranhetices", um gosta mais salgado, o outro sem cebola, o outro sem vinagre, aquele come demais e o outro não se lembra de comer, enfim , tudo que tem numa grande família. Aliás, muitos me chamam de Dona Nenê, porque dizem que me pareço com a Marieta Severo da grande família, o que no fundo era o que eu queria ter.
Falei demais. Aí vai a crônica.

sábado, 19 de junho de 2010

A SABEDORIA DOS MAIS VELHOS

Esta semana vivi duas experiências muito especiais. Na quinta, 17-06, estive no sarau da Vila Fundão, onde pude participar de um bate-papo com algumas mulheres incríveis sobre suas participações nos movimentos socias. Com mediação de Diane padial, minha cunhada a quem admiro profundamente e a quem devo muitos ensinamentos, Rita da casa de Cultura da M`Boi Mirim, Fabiana do Maria-Mariá,dona Neide da União popular de Mulheres com uma história de vida de muita luta por seus direitos e pelos direitos de sua comunidade e dona Raquel Trindade, mulher maravilhosa que muito tem feito pela cultura popular.
Sempre me encantou ouvir as histórias que as pessoas mais velhas têm pra nos contar, são coisas lindas, importantes e de muita sensibilidade. A Dona Neide contou coisas sobre a época da ditadura que eu nunca imaginei. Meu pai tem 73 anos, moramos no Campo Limpo desde 1970. Eu já lhe perguntei algumas vezes o que ele se lembrava da época da ditadura e ele me disse que para ele não teve importância, não influenciou em nada na sua pacata vida. Então ouço as histórias de D. Neide sobre o período mais pesado da ditadura, nos anos 70, quando moradores do Campo Limpo, ativistas políticos ou não, foram perseguidos, torturados e mortos; de pessoas que ajudaram muito, dentre elas alguns padres e freiras, das crianças que sua família ajudou a esconder pra que não presenciassem seus pais sendo torturados. E eu, na minha ignorância, achando que no Campo Limpo isso tinha passado bem longe.
Depois veio dona Raquel, com tantas histórias, com tanta lucidez nos pensamentos e na fala, com tanta beleza e alegria que deixam qualquer um com vontade de ter uma avó assim. Eu disse pro Zinho: " Se eu tivesse uma avó como a sua não quereria sair do seu colo, só ouvindo suas histórias". Foi maravilhoso!
Na sexta 19-06 fomos à Aldeia Guarani Tenonde Porã, convidados pela Jerá e pelo Jurandir para participar de uma festa. Tratava-se de uma cerimônia para homenagear os mais velhos das aldeias Guarani. Fomos direto pra Casa de Reza( Opy ). Todos já estavam acomodados,fumando seu cachimbo, a fogueira acesa, as crianças por ali, as mulheres espalhadas pelo chão, perto do fogo e alguns Juruás ( não índios). Os Guarani têm um tempo diferente do nosso, eles falam baixo e calmamente. Cada velho índio teve sua vez de falar, passar seus ensinamentos, rezar, agradecer aos deuses e aos seus ancentrais. Os jovens e as crianças ouviam atentamente e com respeito. As crianças são incrivelmente carinhosas, vão se chegando, nos abraçando, colocando suas pequeninas mãos dentre as nossas. Eles respeitam a cerimônia mas não deixam de ser crianças, continuam falando umas com as outras e os adultos as permitem ser assim.
Depois de muita reza e muita reverência vieram as danças com o cântico das crianças. A princípio a dança é lenta, de passinhos miudos, mas aos poucos vai se tornando forte, com rítmo e sem pausa. A gente sente o chão tremer, todos pulam e cantam num rítmo único como num transe. Os Juruás mal conseguiam acompanhar os passos e a frequência da dança. ´
Depois das danças veio a comida. Uma espécie de pão frito, feito de trigo, sal e água, pinhão cozido, amendoim, café e mingau de mandioca. Todos esperam sentados para serem servidos, com calma , sem ganância, com elegância.
Saímos de lá às 3hs da manhã. Me senti honrada e literalmente abençoada por estar naquele lugar, com aquelas pessoas que mantêm as tradições e a língua, que param um dia pra homenagear seus velhos e ouvir suas histórias.
Obrigada mais uma vez à Jerá e Jurandir.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

BOLO DE LARANJA

Faz tempo que não ponho aqui uma receita. Esta é muito fácil e fica muito gostoso. Fiz este fim de semana pra levar pra casa do meu pai. Meu irmão Hélio é um comelão de primeira e adora este bolo ( e todos os outros ).




BOLO DE LARANJA

2 XÍCARAS DE FARINHA DE TRIGO
3 OVOS
2 XÍCARS DE AÇUCAR
2 COLHERES DE MARGARINA
1 COLHER,DAS DE SOPA, DE FERMENTO
1 COPO DE SUCO DE LARANJA

Bata as claras em neve e reserve. Bata as gemas com a margarina e o açucar até ficar bem clarinho.Acrescente a farinha de trigo e o suco de laranja e bata mais um pouco.
Coloque o fermento e as claras em neve e mexa com uma colher.
Coloque a massa numa forma de buraco untada com margarina e com farinha polvilhada.
Leve ao forno médio, pré aquecido.
Quando tirar do forno passe uma faca em volta para soltá-la mais facilmente. Desenforme e regue com suco de 2 laranjas com um pouco de açucar.

terça-feira, 1 de junho de 2010

MULHERES

Estive no dia 27-05 no Barzinho Cultural, no Centro Cultural Monte Azul, num debatepapo com Carla Prates, Fabiana Teixeira e algumas outras pessoas sobre o tema: "A construção dos estereótipos da mulher na mídia e a construção dos mitos".É impressionante ver a forma como as mulheres são usadas na mídia para vender qualquer tipo de produto, desde sabonete até cerveja. Sempre sendo inferiorizada, diminuida e humilhada de todas as formas. Há ainda quem pense que a situação da mulher no mercado de trabalho de hoje é melhor que a dos homens, quando na verdade só algumas conquistas foram feitas e ainda há muito o que melhorar.De que adianta a mulher conquistar o direito de ficar com seu filho, logo após o nascimento , pelo período de seis meses, se a maioria das empresas, quando precisa de um funcionário pensa mil vezes antes de contratar uma mulher, já prevendo " futuras perdas". Ainda por cima, as que voltam depois dos seis meses, são deixadas de escanteio, como se seu trabalho não tivesse mais o mesmo valor.Enfim, o papo foi muito interessante, mas ainda há muito o que se falar sobre o tema e a maioria saiu de lá querendo mais.Aproveito para deixar aqui um pequeno fragmento de uma entrevista com Lélia Gonzales, ativista negra :

" A questão da sexualidade tem que ser discutida num nível mais amplo e não no nível do orgasmo, pura e simplesmente. Estou propondo um orgasmo muito maior, um prazer e uma felicidade muito maiores(...] Precisamos assumir uma posição mais equilibrada em termos dessa relação homem/mulher, porque eu não sou mulher sozinha, eu sou mulher com o homem, senão a gente dança. E esses valores da cultura africana estão lá esquecidos no inconsciente da gente e têm muito a contribuir no sentido do equilíbrio da relação homem/mulher... ( 1990 )

Lélia Gonzales

quarta-feira, 26 de maio de 2010

RAÍZES

Uma árvore da Casa das Rosas- SP


MINHAS RAÍZES


Fernando, meu pai ( Seu Zé) , eu, Hélio e Regina

Fernando, Regina, eu, Hélio, minha mãe ( Augusta) e Naiana

domingo, 16 de maio de 2010

VIRADA CULTURAL

Hoje assisti a um dos melhores e mais emocionantes shows da minha vida, Cantoria com Geraldo Azevedo, Elomar, Vital Farias e Xangai. Foi lindo, foi emocionante, foi maravilhoso vê-los cantando juntos depois de tantos anos. Agradeço imensamente ao meu amigo Gil que me emprestou uma credencial pra eu assistir bem de pertinho. Estou ainda em estado de êxtase.

Um vídeo em homenagem aos quatro. Meus queridos amigos, Irmãos Ribeiro.





Geraldo Azevedo, Elomar, Vital Farias e Xangai. Momentos inesquecíveis


Grupo Abba, muito divertido relembrar estas músicas.


Peu e Luca

Micheli, Gil e Gunnar

segunda-feira, 10 de maio de 2010

MEU MP4

A cidade foi mais bonita hoje ao som do meu Mp4. As pessoas pareciam mais felizes caminhando como numa dança ao som da música que eu ouvia. Me senti como parte da trilha sonora de um belo filme. Amei!

domingo, 9 de maio de 2010

Metade- Oswaldo Montenegro

Playing for change

TORTA HOLANDESA

Andei meio ausente deste blog porque agora tenho mais três pra alimentar. Haja teta rsrsrsrSe tiver um tempinho passa por lá, ainda estão em fase de construção, estou aprendendo a usar as ferramentas, logo estarei craque.

http://www.saraudobinho.blogspot.com/

http://www.biciclotecas.blogspot.com/

http://www.postesias.blogspot.com/



Hoje é dia das mães. Me sinto muito realizada como mãe. Tenho uma filha maravilhosa e uma família linda, que mais posso querer? Adorei o presente que ganhei: um MP4! Já me vejo pagando mico no busão lotado ouvindo Chico, Roberto, Beatles, Zeca, Cold Play
, Mamelucos, Preto Soul, Itamar etc etc etc. O problema é que canto junto, essa é a piada. Tô nem aí!!! Já ouvi tanta música ruim sem querer que agora vou à forra!!!!!!!! Que se cuidem os pagodeiros, funkeiros, axé-zeiros, os puts-puts, saiam do meu lado, senão vão ter que me aguentar. Uhuuuuuuuuu.
Fiz hoje uma sobremesa especial pra compartilhar com a família. É meio carinha mas é muito gostosa e fácil de fazer. Deixa de ser mão de vaca e gasta um pouquinho mais neste dia, vale à pena! Esta receita eu aprendi com a Jaine, esposa do Arlindo, um velho amigo.

Torta holandesa

250 g de manteiga sem sal ( não serve margarina )
1 copo e meio ( americano ) de açucar peneirado
4 gemas
4 caixinhas de creme de leite
2 pacotes de bolacha maizena
1 barra de chocolate meio amargo

Bata a manteiga com as gemas e o açucar até ficar bem clarinho, acrescente 3 caixinhas do creme de leite e bata mais um pouco.
Num refratário, espalhe uma camada da bolacha umedecida em leite com nescau, depois coloque uma do creme, outra de bolacha , outra de creme até acabar ( de preferência termine com camada de creme ). Deixe na geladeira de um dia pro outro ou por uma hora, pra ficar mais firme.
Quebre a barra de chocolate numa vasilha de vidro ou plástico, leve ao fogo em banho maria( dentro de outra panela com água ) até derreter. Tire do fogo, acrescente uma caixinha de creme de leite e despeje por cima do pavê. Decore com biscoito Calipso, aqueles da Joelma rsrsrsr.
Se vc estiver com pouca grana pode substituir a barra de chocolate por um brigadeiro molinho.

sábado, 6 de março de 2010

DESINFORMÉMONOS

Esta é uma foto reportagem que minha amiga Joana fez sobre o Donde miras no seu site www.desinformemonos.org, um site que vem nos trazer notícias sobre a nossa América, feito por pessoas que têm uma visão de quem está perto dos acontecimentos, muito bom! .

http://desinformemonos.org/2010/03/donde-miras-de-la-periferia-de-sao-paulo-para-america-latina/


Donde miras: De la periferia de Sao Paolo a Latino América from desinformémonos on Vimeo.

SOPA CREME DE MANDIOQUINHA


Ideal para um dia frio como hoje, esta sopinha pode ser feita também com mandioca ou abóbora japonesa.
Aqui em casa o marido e a filha são vegetarianos ( pelo menos estão tentando), por isso não uso bacon e linguiça, mas vc pode usar um pouco que fica gostoso.

Sopa creme de mandioquinha

8 mandioquinhas grandes ( 1 kg e meio, mais ou menos )
5 dentes de alho amassados
1 cebola média picada
salsinha picada
azeitona picada
2 colheres de semente de gergelim ( opcional)
uns pedacinhos de bacon sem o couro
meia linguiça defumada picadinha
sal à gosto
pedacinhos de queijo ( qualquer tipo)

Descasque a mandioquinha, corte em pedaços e cozinhe com meia colher de sal na panela de pressão por uns 15 minutos ( coloque água que cubra a mandioquinha e sobre um pouco ) .
Depois de cozido bata tudo no liquidificador,se estiver com pouca água acrescente um pouco.
Numa outra panela frite primeiro o bacon, coloque a linguiça e deixe fritar mais um pouco. Acrescente o alho e deixe dourar, depois a cebola. Despeje a mandioquinha batida e veja se está bom de sal.
Se vc tiver em casa os outros ingredientes vai ficar muito bom , mas pode ser sem eles também que fica gostoso ( mesmo sem o bacon e a linguiça fica bom ).
Coloque a azeitona picada, a salsa, o queijo e a semente de gergelim ( torre em uma frigideira antes de por na sopa ).
Se vc fizer de mandioca o procedimento é o mesmo, só não se esqueça de tirar a raíz depois de cozida.

IOGURT CASEIRO


Se você gosta de comer, pela manhã, iogurt com mel, granola e frutas, mas acha que é muito caro comprar os copinhos industrializados, faça o seu iogurt em casa. É muito mais barato, fica bem gostoso e rende bastante.

IOGURT

2 litros de leite tipo C de saquinho ( aquele da padaria )
1 copo de iogurt natural

Ferva o leite numa panela de pressão, deixe esfriando e quando estiver morno ( não pode ser frio nem quente demais ) acrescente o iogurt e misture bem. Tampe a panela e deixe até o dia seguinte. Ele estará com uma consistência bem firme.
Você pode depois bater com a fruta de sua preferência, comer com mel e granola, fazer um molhinho pra salada com mostarda e salsinha, enfim tem várias formas de apreciar e é muito saudável.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Brigadeirão


Vira e mexe encontro alguém que frequentou o Bar do Binho nos anos 90 e me perguntam : Tia Suzi, e aquele brigadeirão que vc fazia lá no bar, morro de vontade de comer de novo. Estou devendo pra algumas pessoas, pro Budinha, pra Keity da banca de jornal, pro Fernando da Vila Fundão e tantos outros. Meu amigo Binho ( é outro Binho ) também vivia me cobrando e neste carnaval estivemos em sua casa em Itapecerica e levei de presente, ele se deliciou.

Brigadeirão

2 latas de leite condensado
1 vidro de leite de coco
2 colheres de margarina
2 xícaras de chocolate em pó ( pode ser nescau mesmo )
5 ovos

Bater tudo no liquidificador, colocar numa forma de buraco untada só com margarina e levar ao forno em banho maria ( dontro de outra forma maior com água ) por aproximadamente 1 hora.
Desenformar frio e se tiver dificuldade de tirar da forma coloque sobre o fogo rapidamente que a margarina derrete e solta da forma mais fácil.
Decore com chocolate granulado.

Doce de casca de melancia


Ultimamente tenho aproveitado tudo na cozinha, nada se perde, tudo se transforma.
Em Ubatuba, durante a caminhada, resolvi fazer o doce de casca de melancia que comi na casa da minha irmã Regina ( cozinheira de mão cheia, tá sempre inventando receitas novas ).Alguns me olharam incrédulos enquanto eu recolhia as cascas pro doce , mas depois adoraram.
Semana passada recebi um e-mail do Nôno, uma grande pessoa que conheci na caminhada, dizendo que estava fazendo o doce na casa da tia dele.
O Nôno é espanhol, adora comer bem e não saía do meu lado enquanto eu cozinhava.Anotou várias receitas pra tentar fazer na Espanha, até mesmo da minha farofinha básica. Ele disse que não pode ir pra Espanha sem aprender a fazer pão de queijo, mas eu disse a ele que vai ter dificuldades em achar por lá o polvilho e o queijo meia cura. Daqui a pouco vamos ver algumas receitas brasileiras patenteadas na Espanha. Eu mato ele.

Doce da casca da melancia

Neste doce vc vai utilizar aquela parte branca que não tem gosto de nada. Retire a casca e a parte vermelha ( pode até deixar bem pouquinho da parte vermelha que fica bonito ).
Para uma metade de melancia use mais ou menos uns 4 copos de açucar, canela em pau e cravo da Índia.
Corte em tirinhas ou rale na parte grossa do ralador. Coloque numa panela grande junto com os outros ingredientes e leve ao fogo médio até que a casca fique cozida, molinha e a calda esteja mais grossa.

Este doce pode ser feito da mesma forma com chuchu e com mamão verde, tem quase o mesmo sabor.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Pudim de leite


Esta receita é pro meu amigo/afilhado Gunnar. Domingo passado teve uma reunião do Donde Miras e depois fomos comer uma pizza na casa dele. Eu levei um pudim de leite e ele me disse que não sabia fazer, que queria aprender.
É uma receita muito simples e fácil de fazer, é a sobremesa favorita de um monte de gente ,mas tem muitos que não sabem fazer.

1 lata de leite condensado
2 medidas da lata de leite comum
3 ovos
açucar para caramelizar a forma
Vc vai precisar de uma forma de buraco
Coloque 1 copo e meio de açucar numa panelinha, vá mexendo até derreter bem ( cuidado pra não deixar queimar, porque fica amargo).Espalhe rapidamente numa forma de buraco ( seja rápido pois endurece rápido)
Bata no liquidificador o leite, o leite cond. e os ovos e despeje na forma caramelizada.
Coloque a forma dentro de outra maior com água para levar ao forno ( banho maria) por mais ou menos 1 hora.
Desenforme frio.

Primeira receita




Meu pai, Seu Zé

Eu tinha que começar com esta receita, é uma receita tradicional na minha família e em outras famílias mineiras.
Meu pai costumava nos acordar aos domingos com o cheirinho do biscoito de polvilho, ou como ele dizia, biscoito frito na gordura. Ele acordava cedinho, preparava os bicoitos e ia ao nosso quarto, colocava bem pertinho do nosso nariz até acordarmos, colocava o primeiro na nossa boca e depois tínhamos que levantar pra comer mais.
Na minha família todos sabem fazer, meus avós faziam, meus tios fazem e meus irmãos também. Pra mim tem um significado muito especial, não consigo fazer estes bolinhos em casa , quando tem pouca gente, gosto de fazê-lo quando tem uma turma grande.
Sempre que vou à casa do meu pai ele faz pra mim e quando meus irmãos estão juntos fica ainda melhor.

Biscoito de polvilho

500 gr de polvilho azedo
meio copo de óleo
meio copo de leite
2 ovos
sal à gosto
óleo pra fritar

Coloque o polvilho numa bacia. Ferva o óleo junto com o leite e o sal e despeje em cima pra escaldar o polvilho. Misture tudo e acrescente os ovos um a um.
A massa tem que ficar homogênea até soltar das mãos. Faça os bolinhos no formato que desejar.
Coloque numa panela média óleo suficiente pra cobrir os biscoitos . O segredo é não deixar o óleo quente, tem que manter a temperatura do fogo sempre baixa, do contrário os biscoitos podem abrir e estourar.
Cuidado!!! Deixe sempre à mão a tampa da panela, se começar a estourar tome cuidado, é perigoso e vc pode se queimar.


Eu e meu grande amor.
Este conto eu escrevi em 2007, quando participei do Curso de contos africanos e árabes.

Cuidado com o gordo que o gordo te pega!

Era uma pacata rua de periferia como outra qualquer. Crianças
brincando pela rua, jogando bola, amarelinha, pião, bolinha de gude,
pipa, enfim todas aquelas delícias de brincadeiras da infância.
Havia nesta rua uma família no mínimo excêntrica. A mãe, Dona Zilda,
um amor de pessoa, ajudou muito minha mãe nos dias difíceis. Ela fazia
a feira para sua casa e sempre levava umas coisinhas pra minha mãe.
Fazia bolos confeitados , coloridos, com aquelas pedrinhas de açucar
que pareciam vidro. Eu adorava.
Ela teve três filhos, assim como a minha mãe, só que os dela eram
todos homens. Eles tinham nomes bem diferentes: Newton, Shalton e
Washington, que para a molecada da rua se transformaram em Nilton,
Joaquinzinho e Chitão.
Eram bons meninos, mas muito tristes. Apesar de todo o carinho que
recebiam de sua mãe, seu pai, Seu Joaquim, aquele homem gordo e
bigodudo, era muito bravo. Não permitia que seus filhos brincassem na
rua. Lembro-me bem de suas carinhas na grade do portão nos espiando as
brincadeiras. Eu morria de dó e muitas vezes ficava do outro lado
brincando com eles.
Às vezes, dona Zilda corria o risco desafiando o marido e soltava os
meninos na rua , antes que ele chegasse do trabalho. Era uma alegria
para aqueles meninos; eles queriam correr, queriam aproveitar cada
minuto.
Todas as crianças da rua tinham medo do Seu Joaquim. Ele tinha um
vozeirão de arrepiar, tinha um bigode que parecia o do Zorro, mas a
barriga o fazia parecer o sargento Garcia. Nós o chamávamos de "O
gordo".
Quando jogávamos bola e ela caía no seu quintal, tínhamos que torcer
pra ele não a achar antes dos meninos, do contrário, lá se ía mais uma
bola. Ele passava a faca e devolvia pra rua, quanta maldade!
Para a maioria das crianças da rua, entrar naquela casa era um
desafio. Num bairro de periferia, geralmente as crianças tomam conta,
invadem as casas dos amigos, comem pão, bolo, o que tiver pela frente.
Naquela casa isso não acontecia. Eu era uma exceção: Dona Zilda me
adorava, dizia que eu ia me casar com o caçula, o Joaquinzinho
(Shalton), ela fazia coisas deliciosas e eu a ajudava a varrer a casa.
Todas as crianças me rodeavam pra saber o que eu estava fazendo lá
dentro da casa do Gordo.
Havia uma época do ano em que as crianças podiam entrar lá. Não me
recordo em que mês, acho que na época do calor, apareciam as
tanajuras, conhecida por alguns como Içá. Seu Joaquim adorava comer
bunda de tanajura frita, que nojo!
Como ele era muito gordo, tinha dificuldades pra pegá-las, então ele
pagava pra molecada pegar. Cada um arrumava uma latinha vazia e saia
pela rua, pegando tanajura, mas tinha que ser daquelas bem bundudas.
Para nós, crianças, era uma festa. Além da farra atrás dos bichinhos,
ganhávamos umas moedinhas e ainda por cima tínhamos a chance de entrar
na casa do Gordo.
No final, ele fritava as bundas das tanajuras e comia com farinha.
Aquele cheiro se espalhava por toda a vizinhança, era horrível.
Dona Zilda morreu muito nova, 33 anos, de derrame. Foi uma tristeza
danada, me lembro de ter sido meu primeiro contato com a dor da morte.
Seu Joaquim se casou logo, já tinha outra esposa na manga e os meninos
ficaram ainda mais tristes.
Esta é uma das histórias da minha infãncia. Poucas vezes depois disso
senti o cheiro de bunda de tanajura frita, nem sei se elas ainda
existem, mas é um cheiro que se eu sentir em qualquer lugar vou saber
identificar.
Quando criança tive um pequeno diário. Lá eu escrevia toda minha revolta de filha do meio que se sente rejeitada, eu sempre achei que minha mãe gostava mais da minha irmã mais velha, então um dia minha irmã achou meu diário embaixo do colchão e leu pra todo mundo, debochando dos meus sentimentos. Nunca mais tive um diário.
Agora resolvi criar este blog. Muitas vezes me vêm coisas à cabeça que quero registrar, não são poemas nem nada parecido, apenas pensamentos, ideias e muitas receitas. É verdade, quando não quero pensar nos problemas diários fico criando receitas , mas nem sempre tenho um papel à mão e acabo deixando pra lá.
Quem sabe com um blog eu me proponha a escrever um pouco mais.