sexta-feira, 25 de junho de 2010

UMA HOMENAGEM AO SABÃO, O CACHORRO DO MUTCHO

MORREU NESTA QUARTA-FEIRA 23-06 O SABÃO. ELE ERA O CÃOPANHEIRO DO MEU AMIGO MUTCHO.FAÇO IDEIA DE COMO O MUTCHO ESTÁ SE SENTINDO, ELE DISSE: "ENTERREI HOJE MEU MELHOR AMIGO".
O SABÃO LHE FAZIA COMPANHIA HÁ UNS BONS ANOS. ERA UM CÃO DÓCIL, AMIGÁVEL, VIVIA POR ALI, NO JARDIM HELGA, NA CASA DOS VIZINHOS, ACOMPANHANDO AS CRIANÇAS,ESCORREGANDO NO MEIO DOS LIVROS, AFAGANDO OS DIAS SOLITÁRIOS DO MUTCHO E COMPONDO A MAGNÍFACA DECORAÇÃO DO BAR.
O MUTCHO ACHA QUE ELE FOI ENVENENADO. EU PREFIRO ACREDITAR QUE ELE COMEU VENENO EM ALGUM LUGAR, PREFIRO NÃO ACREDITAR QUE ALGUÉM TENHA CORAGEM DE TAMANHA MALDADE.
EU TAMBÉM TENHO UMA CADELA DE ESTIMAÇÃO, SEU NOME É MEL, ME DÁ ALGUM TRABALHO, PRINCIPALMENTE QUANDO PRECISAMOS VIAJAR, MAS É UMA GRANDE COMPANHEIRA E VOU SENTIR MUITO QUANDO ELA MORRER.
AQUI ESTÃO ALGUMAS FOTOS DO SABÃO NO MEIO DOS LIVROS, AJUDANDO NA BICICLOTECA.









terça-feira, 22 de junho de 2010

SOBRE FACAS E PANELAS

Panelas do coração

Os cozinheiros se dividem em duas espécies. Aqueles que num incêndio salvariam suas facas e os que salvariam suas panelas. Acho que se esqueceram da terceira espécie, os que se matariam pelos dois. Reflitam. Quem são vocês?
Já me fiz a pergunta. Eu correria com minhas quatro panelas, todas com vinte e cinco anos de luta. Como elmos prateados de uma batalha espinhosa e não poucas vezes prazerosa. São panelas que uso quando cozinho sozinha para alguém que gosto. Lá descem elas do armário. São de aço brilhante, italianas e indestrutíveis. Panelas sérias para um métier sério.
A frigideira, uma panela bem alta para macarrão, uma comum, média, e outra de duas asinhas laterais, baixa, que dá até para uma pequena paella. Os cabos não esquentam, por mais que sejam aquecidos, a comida não gruda no fundo, não são pesadas demais, facílimas de lavar. Irradiam o calor por igual.
E eu sei a marca? Só me lembro que ao ver a nota, da Hammacher Schlemmer, Nova Iorque, houve choro e ranger de dentes. “Poderíamos ter ficado num hotel 5 estrelas e não neste muquifo com cozinha para você exibir este panelório!” Mal se sabia que durariam um quarto de século ou mais.
Vocês viram aquele filme, Hannibal? Ou leram o livro? São a sequência ao Silêncio dos Inocentes, pequena obra prima. O monstro canibal escapa da prisão e é quase impossível traçar sua trajetória.Como descobrir em que parte do mundo se escondera aquela peste? Muita inteligência do mal, fugas alucinantes, amor ao perigo. Mas um dos detetives sabia que ele gostava de cozinhar depois que lhe fizera uma pequena confissão (Comi o fígado dele com favas e um bom Chianti.)
Gostava só de coisas boas. O detetive começou a pesquisar os clientes mais assíduos das lojas de cozinha e descobriu os traços do bandido através desta loja americana de nome estranho que vende os melhores utensílios do mundo.O malvado não resistia a uma boa faca, ou panelinha no jeito.Deve ter feito a compra, apaixonado por alguma panela jeitosa, com cartão de crédito, endereço e telefone.
E tínhamos na família a panela na qual minha mãe fazia o bacalhau. Panelas como aquela acontecem nas melhores famílias. Feia, desengonçada, daquelas finas que logo se amassam, o cabo que queima se não se presta muita atenção, e que mora debaixo da pia para não causar má impressão às visitas. Bom, algum incauto deve ter jogado fora a bichinha. Com ela foi-se o bacalhau. Tinha a espessura exata para que o pão que a forrava ficasse queimado sem exageros, bebendo o excesso de azeite. As batatas cozinhavam juntas, em camadas, sem problemas. O tomate se misturava à cebola quase sem deixar vestígios, só mesmo a cor e o gosto. Carentes da panela sumida as nossas sextas feiras santas perderam a santidade única e úmida daquele bacalhau.
Já facas são questão de simpatia cortante. Você tem que olhar a faca e se sentir atraído.E a faca prolonga a mão, logo tem que estar em perfeita sintonia com ela. Multiuso. Corta, descasca, pica, separa, lacera, raspa, golpeia, fura, escama, serra. Preste atenção, qualquer ação na cozinha se torna um desespero sem boas facas afiadas. E aquela pequenina que tem a lâmina curva? Ela se aninha na mão pequena e obedece para descascar uma laranja com o mínimo de elegância, faz bifes razoáveis, pode desossar uma galinha sem causar vergonha, com a ponta extirpa excrescências de um osso, é capaz até de furar a extremidade de um ovo quente.
Há facas para todos os gostos, é claro, mas é muito difícil que você se apaixone por várias facas a um só tempo. É um instrumento monogâmico. Já a panela...
NINA HORTA
É COZINHEIRA, ESCRITORA E PROPRIETÁRIA DO BUFÊ GINGER. É AUTORA DO LIVRO NÃO É SOPA (UMA MISTURA SABOROSA DE CRÔNICAS E RECEITAS) E VAMOS COMER, COM 250 MIL EXEMPLARES DISTRIBUÍDOS PELO MEC PARA ESCOLAS PÚBLICAS DE TODO O Brasil


Recebi do meu amigo Valter esta gostosa crônica de Nina Horta. Eu também tenho cá as minhas preferências. Sempre que vou a algum lugar onde pretendo cozinhar saio carregando minhas tranqueiras de cozinha, as panelas adequadas ao que vou preparar, as travessas, e também facas. Detesto chegar numa cozinha e não encontrar as coisas que preciso. Como cozinhar macarrão pra várias pessoas numa panela delicadinha? Macarrão pede uma panela mãe,daquelas mães italianas de preferência. E depois de pronto pede uma bonita travessa pra que o molho possa se exibir.
As facas, estas eu não gosto das grandes. Prefiro as menores, até mesmo as de serra, me sinto mais íntima e mais confiante, mas tenho uma grande pra cortar as folhas de verdura, cortar carne e o que mais for necessário, nunca se sabe.
Quando viajo com a Expedicion Donde Miras levo todos os meus apetrechos de cozinha que é pra não ficar na mão. Já cheguei a fazer comida pra umas 50 pessoas e pra mim é uma grande realização. É como ter aquela família grande , cheia de filhos, cheia de "ranhetices", um gosta mais salgado, o outro sem cebola, o outro sem vinagre, aquele come demais e o outro não se lembra de comer, enfim , tudo que tem numa grande família. Aliás, muitos me chamam de Dona Nenê, porque dizem que me pareço com a Marieta Severo da grande família, o que no fundo era o que eu queria ter.
Falei demais. Aí vai a crônica.

sábado, 19 de junho de 2010

A SABEDORIA DOS MAIS VELHOS

Esta semana vivi duas experiências muito especiais. Na quinta, 17-06, estive no sarau da Vila Fundão, onde pude participar de um bate-papo com algumas mulheres incríveis sobre suas participações nos movimentos socias. Com mediação de Diane padial, minha cunhada a quem admiro profundamente e a quem devo muitos ensinamentos, Rita da casa de Cultura da M`Boi Mirim, Fabiana do Maria-Mariá,dona Neide da União popular de Mulheres com uma história de vida de muita luta por seus direitos e pelos direitos de sua comunidade e dona Raquel Trindade, mulher maravilhosa que muito tem feito pela cultura popular.
Sempre me encantou ouvir as histórias que as pessoas mais velhas têm pra nos contar, são coisas lindas, importantes e de muita sensibilidade. A Dona Neide contou coisas sobre a época da ditadura que eu nunca imaginei. Meu pai tem 73 anos, moramos no Campo Limpo desde 1970. Eu já lhe perguntei algumas vezes o que ele se lembrava da época da ditadura e ele me disse que para ele não teve importância, não influenciou em nada na sua pacata vida. Então ouço as histórias de D. Neide sobre o período mais pesado da ditadura, nos anos 70, quando moradores do Campo Limpo, ativistas políticos ou não, foram perseguidos, torturados e mortos; de pessoas que ajudaram muito, dentre elas alguns padres e freiras, das crianças que sua família ajudou a esconder pra que não presenciassem seus pais sendo torturados. E eu, na minha ignorância, achando que no Campo Limpo isso tinha passado bem longe.
Depois veio dona Raquel, com tantas histórias, com tanta lucidez nos pensamentos e na fala, com tanta beleza e alegria que deixam qualquer um com vontade de ter uma avó assim. Eu disse pro Zinho: " Se eu tivesse uma avó como a sua não quereria sair do seu colo, só ouvindo suas histórias". Foi maravilhoso!
Na sexta 19-06 fomos à Aldeia Guarani Tenonde Porã, convidados pela Jerá e pelo Jurandir para participar de uma festa. Tratava-se de uma cerimônia para homenagear os mais velhos das aldeias Guarani. Fomos direto pra Casa de Reza( Opy ). Todos já estavam acomodados,fumando seu cachimbo, a fogueira acesa, as crianças por ali, as mulheres espalhadas pelo chão, perto do fogo e alguns Juruás ( não índios). Os Guarani têm um tempo diferente do nosso, eles falam baixo e calmamente. Cada velho índio teve sua vez de falar, passar seus ensinamentos, rezar, agradecer aos deuses e aos seus ancentrais. Os jovens e as crianças ouviam atentamente e com respeito. As crianças são incrivelmente carinhosas, vão se chegando, nos abraçando, colocando suas pequeninas mãos dentre as nossas. Eles respeitam a cerimônia mas não deixam de ser crianças, continuam falando umas com as outras e os adultos as permitem ser assim.
Depois de muita reza e muita reverência vieram as danças com o cântico das crianças. A princípio a dança é lenta, de passinhos miudos, mas aos poucos vai se tornando forte, com rítmo e sem pausa. A gente sente o chão tremer, todos pulam e cantam num rítmo único como num transe. Os Juruás mal conseguiam acompanhar os passos e a frequência da dança. ´
Depois das danças veio a comida. Uma espécie de pão frito, feito de trigo, sal e água, pinhão cozido, amendoim, café e mingau de mandioca. Todos esperam sentados para serem servidos, com calma , sem ganância, com elegância.
Saímos de lá às 3hs da manhã. Me senti honrada e literalmente abençoada por estar naquele lugar, com aquelas pessoas que mantêm as tradições e a língua, que param um dia pra homenagear seus velhos e ouvir suas histórias.
Obrigada mais uma vez à Jerá e Jurandir.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

BOLO DE LARANJA

Faz tempo que não ponho aqui uma receita. Esta é muito fácil e fica muito gostoso. Fiz este fim de semana pra levar pra casa do meu pai. Meu irmão Hélio é um comelão de primeira e adora este bolo ( e todos os outros ).




BOLO DE LARANJA

2 XÍCARAS DE FARINHA DE TRIGO
3 OVOS
2 XÍCARS DE AÇUCAR
2 COLHERES DE MARGARINA
1 COLHER,DAS DE SOPA, DE FERMENTO
1 COPO DE SUCO DE LARANJA

Bata as claras em neve e reserve. Bata as gemas com a margarina e o açucar até ficar bem clarinho.Acrescente a farinha de trigo e o suco de laranja e bata mais um pouco.
Coloque o fermento e as claras em neve e mexa com uma colher.
Coloque a massa numa forma de buraco untada com margarina e com farinha polvilhada.
Leve ao forno médio, pré aquecido.
Quando tirar do forno passe uma faca em volta para soltá-la mais facilmente. Desenforme e regue com suco de 2 laranjas com um pouco de açucar.

terça-feira, 1 de junho de 2010

MULHERES

Estive no dia 27-05 no Barzinho Cultural, no Centro Cultural Monte Azul, num debatepapo com Carla Prates, Fabiana Teixeira e algumas outras pessoas sobre o tema: "A construção dos estereótipos da mulher na mídia e a construção dos mitos".É impressionante ver a forma como as mulheres são usadas na mídia para vender qualquer tipo de produto, desde sabonete até cerveja. Sempre sendo inferiorizada, diminuida e humilhada de todas as formas. Há ainda quem pense que a situação da mulher no mercado de trabalho de hoje é melhor que a dos homens, quando na verdade só algumas conquistas foram feitas e ainda há muito o que melhorar.De que adianta a mulher conquistar o direito de ficar com seu filho, logo após o nascimento , pelo período de seis meses, se a maioria das empresas, quando precisa de um funcionário pensa mil vezes antes de contratar uma mulher, já prevendo " futuras perdas". Ainda por cima, as que voltam depois dos seis meses, são deixadas de escanteio, como se seu trabalho não tivesse mais o mesmo valor.Enfim, o papo foi muito interessante, mas ainda há muito o que se falar sobre o tema e a maioria saiu de lá querendo mais.Aproveito para deixar aqui um pequeno fragmento de uma entrevista com Lélia Gonzales, ativista negra :

" A questão da sexualidade tem que ser discutida num nível mais amplo e não no nível do orgasmo, pura e simplesmente. Estou propondo um orgasmo muito maior, um prazer e uma felicidade muito maiores(...] Precisamos assumir uma posição mais equilibrada em termos dessa relação homem/mulher, porque eu não sou mulher sozinha, eu sou mulher com o homem, senão a gente dança. E esses valores da cultura africana estão lá esquecidos no inconsciente da gente e têm muito a contribuir no sentido do equilíbrio da relação homem/mulher... ( 1990 )

Lélia Gonzales