sábado, 19 de junho de 2010

A SABEDORIA DOS MAIS VELHOS

Esta semana vivi duas experiências muito especiais. Na quinta, 17-06, estive no sarau da Vila Fundão, onde pude participar de um bate-papo com algumas mulheres incríveis sobre suas participações nos movimentos socias. Com mediação de Diane padial, minha cunhada a quem admiro profundamente e a quem devo muitos ensinamentos, Rita da casa de Cultura da M`Boi Mirim, Fabiana do Maria-Mariá,dona Neide da União popular de Mulheres com uma história de vida de muita luta por seus direitos e pelos direitos de sua comunidade e dona Raquel Trindade, mulher maravilhosa que muito tem feito pela cultura popular.
Sempre me encantou ouvir as histórias que as pessoas mais velhas têm pra nos contar, são coisas lindas, importantes e de muita sensibilidade. A Dona Neide contou coisas sobre a época da ditadura que eu nunca imaginei. Meu pai tem 73 anos, moramos no Campo Limpo desde 1970. Eu já lhe perguntei algumas vezes o que ele se lembrava da época da ditadura e ele me disse que para ele não teve importância, não influenciou em nada na sua pacata vida. Então ouço as histórias de D. Neide sobre o período mais pesado da ditadura, nos anos 70, quando moradores do Campo Limpo, ativistas políticos ou não, foram perseguidos, torturados e mortos; de pessoas que ajudaram muito, dentre elas alguns padres e freiras, das crianças que sua família ajudou a esconder pra que não presenciassem seus pais sendo torturados. E eu, na minha ignorância, achando que no Campo Limpo isso tinha passado bem longe.
Depois veio dona Raquel, com tantas histórias, com tanta lucidez nos pensamentos e na fala, com tanta beleza e alegria que deixam qualquer um com vontade de ter uma avó assim. Eu disse pro Zinho: " Se eu tivesse uma avó como a sua não quereria sair do seu colo, só ouvindo suas histórias". Foi maravilhoso!
Na sexta 19-06 fomos à Aldeia Guarani Tenonde Porã, convidados pela Jerá e pelo Jurandir para participar de uma festa. Tratava-se de uma cerimônia para homenagear os mais velhos das aldeias Guarani. Fomos direto pra Casa de Reza( Opy ). Todos já estavam acomodados,fumando seu cachimbo, a fogueira acesa, as crianças por ali, as mulheres espalhadas pelo chão, perto do fogo e alguns Juruás ( não índios). Os Guarani têm um tempo diferente do nosso, eles falam baixo e calmamente. Cada velho índio teve sua vez de falar, passar seus ensinamentos, rezar, agradecer aos deuses e aos seus ancentrais. Os jovens e as crianças ouviam atentamente e com respeito. As crianças são incrivelmente carinhosas, vão se chegando, nos abraçando, colocando suas pequeninas mãos dentre as nossas. Eles respeitam a cerimônia mas não deixam de ser crianças, continuam falando umas com as outras e os adultos as permitem ser assim.
Depois de muita reza e muita reverência vieram as danças com o cântico das crianças. A princípio a dança é lenta, de passinhos miudos, mas aos poucos vai se tornando forte, com rítmo e sem pausa. A gente sente o chão tremer, todos pulam e cantam num rítmo único como num transe. Os Juruás mal conseguiam acompanhar os passos e a frequência da dança. ´
Depois das danças veio a comida. Uma espécie de pão frito, feito de trigo, sal e água, pinhão cozido, amendoim, café e mingau de mandioca. Todos esperam sentados para serem servidos, com calma , sem ganância, com elegância.
Saímos de lá às 3hs da manhã. Me senti honrada e literalmente abençoada por estar naquele lugar, com aquelas pessoas que mantêm as tradições e a língua, que param um dia pra homenagear seus velhos e ouvir suas histórias.
Obrigada mais uma vez à Jerá e Jurandir.

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