quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A FALTA DE SENSO DO CENSO

Estou trabalhando há alguns dias como recenseadora do IBGE ( Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Tem sido uma experiência bastante interessante.
Algumas coisas têm me chamado muito a atenção, uma delas é o fato de que quase ninguém se declara negro, todos se dizem pardos. Eu não posso influenciar na resposta da pessoa, vejo claramente suas características negras mas tenho que colocar o que a pessoa diz. Alguns, quando se dizem negros, completam depois dizendo assim: " mas meus filhos já são mais brancos"; Como se quisessem amenizar a situação.
A pergunta que é feita pelo questionário do IBGE é a seguinte:
A sua cor ou raça é:
-branca
-preta
-amarela
-parda
-indígena
Não entendi ainda esta história de cor preta, alguém pode me ajudar? É correto ainda dizer "raça"? A raça não é a humana e ponto????
Li no blog do Augusto (http://www.oooaugusto.blogspot.com)ele contando como foi o recenseamento na sua casa. Ele resolveu dizer que era de raça indígena e neste caso abre uma opção - qual a sua etnia? - Ele respondeu que era da tribo dos " Kukukaya". É claro que a moça não encontrou esta etnia , mas deve ter ficado com a pulga atrás da orelha. Só o Augusto mesmo, ele é muito engraçado.
Mas não é só isso que me chama a atenção não. Me impressiona ver a quantidade de pessoas que vivem na miséria, famílias com 8 pessoas sobrevivendo com um salário mínimo de algum deles. Famílias enormes que vivem em dois cômodos e outras pouquíssimas de três ou quatro pessoas que vivem em casas com 3 ou 4 banheiros, onde todos trabalham ganhando acima de 1.500,00 reais.
Estive numa casa onde tinha um homem no muro que gritava com todo mundo que passava na rua. Sua irmã veio me receber e percebi que ele não era o único louco da casa. Era tudo uma loucura...
Uma das crianças ( eram várias) abriu o portão pra sair e o homem aproveitou e escapuliu. A irmã saiu batendo nele, mandando entrar senão ele ía apanhar mais e ela ía chamar a polícia. Ele sentou no chão e começou a gritar.Eu lhe estendi minha mão e disse- Vem que eu te ajudo a entrar-. Ele me olhou nos olhos, foi se acalmando e perguntou se eu entraria com ele. Eu disse que sim.
Ele se levantou, segurou firme na minha mão e foi entrando. Prendeu a outra mão no portão e falou - então entra comigo. Eu entrei e ele veio atrás. Pedi que ele se sentasse na escada e fui fazendo as perguntas do censo pra ele e ele tentando me responder do seu jeito.
A irmã disse: " Pensa que é fácil"?

Tenho ouvido histórias de vida muito interessantes, vendo situações que me fazem dar valor a tudo que tenho e parado de reclamar de barriga cheia.

2 comentários:

  1. suzi, suzi, suzi.
    a onda é dura. o quadro é negro.
    temos que nos perceber privilegiados e evoluídos para fazer o q você fez. o q você faz.
    eu bem sou índio. tanto quanto português, negro ou pardal (eu bem queria).
    bem brasileira.
    aguenta guerreira!
    valeu!

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  2. ai ai, cada situação, mas a miséria está aí mesmo, em toda parte, e é foda, a gente pensa que ta mal, mas tá bem, pq é só olhar pro lado que tem gente passando muito mal... mas vamos lá, continuar nessa nossa jornada sem fim :)

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